quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

"Por favor me dá um copo de qualquer coisa que se sinta."



Hoje em dia o pão só vem quentinho depois que sai do microondas da minha casa...tem até pizza congelada no armazém da esquina.
Sorvete não me proporciona mais tanto prazer como há dez anos...comer pipoca com leite condensado não me faz mais pular a cada estouro na panela...
Roupa nova não é mais motivo de festa e sim de resultado de um mês de trabalho...
Estudar não me deixa mais triste,agora é a minha maior vontade.
Antigamente eu era castigada se não dissesse a verdade,hoje dizer a verdade em alguns momentos é o meu grande castigo.
Não paro de fazer o que estou fazendo para me benzer qndo no radio diz que é a hora da ave-maria...nem lembro a última noite que rezei antes de dormir,antes eu só dormia se rezasse..
Ir à academia não é tão mais divertido,mas é muito mais necessário...
O meu choro não significa mais que quero doce...
Eu não tenho mais cofrinho rosa na cabeceira da minha cama...tenho uma caixinha que guardo todos os meus brincos...
Fazer castelinho na areia me causa pavor hoje,antes era o motivo pelo qual eu ia à praia.
“...o tempo vai girando cada vez mais veloz.A gente espera do mundo e o mundo espera de nós:um pouco mais de paciência...”
Até a saudade hoje é mais programada,controlada.Quem um dia pensou em amenizar a saudade através de uma tela de computador??É,realmente,pensaram nisso,olha nós aqui.Mas será que este excesso de globalização nos faz bem realmente?
Aquela essência não mais sentida,aquele friozinho na barriga que eu sentia no dia do meu aniversário esperando alguém chegar na porta,ou até mesmo o telefone tocar (pelo menos a voz é de verdade!) ...eu só não pensava que isso tudo passaria a “simples scraps no Orkut” e mensagens fonadas.
O mundo está rápido,as pessoas não são tão legais como eram antigamente.E já ouvi dizer que as pessoas não mudam.Claro que mudam e são elas que mudam o mundo tb.O mundo não sofre só por uma calamidade chamada “fome de comer” não,existe a “fome de carinho”,”fome de justiça”,”fome de solidariedade”...Cadê o “Bolsa-amor”??Vamos presidente,passeia comigo também e me mostra o quanto Vossa Majestade conhece o país que governa.Eu estou a fim de beber café sem leite pelos anos que me sobram pela frente.Já mandei o “coelho branco para o buraco de relógio consertado”.
“...será que é tempo que lhe falta pra perceber??Será que temos esse tempo pra perder??E quem quer saber: a vida não pára...”
Tenho uma prima que me conta a “novela das oito” dos primeiros capítulos até os últimos...kd o parque???As bonecas?? Só falta alguém comentar aqui que “novela é construtivo”...juro que peço pra sair!
Lembro o quanto implorava pra minha mãe deixar eu passar 15 minutos falando ao telefone com outra prima minha lá de Salvador,na Bahia.Afff,a alegria que era expressada através dos meus olhos de menina de 12 anos era absurda.Hoje eu tenho ela “add” no meu MSN,acho que nunca passamos 15 minutos conversando,ela do trabalho e eu do trabalho.
As pessoas se afastaram quando deveriam se aproximar...
Te amo virou “Bom dia”...
Parece que o coração hoje em dia vem com artérias emborrachadas,o sangue é “ki-suc de pitanga”...a gente tem que cobrar atenção,pedir um "copo de qualquer coisa que se sinta"...Eu não acredito que as coisas mudem num passo de mágica,até porque ninguém acredita mais em mágica...("Mr.M" junto com a Globo são os culpados por isso),mas queria muito viver em um mundo com menos príncipes e mais princípios.
"...por favor alguma alma,mesmo que penada,me empreste suas penas.Já não sinto amor,nem dor,eu já não sinto nada..."
Acho que nunca pensei em um dia falar isso,mas:
“Ando sonhando em receber flores, se possível, todas feitas de guardanapo,pintadas à mão com tinta guache.
Dia:Numa terça-feira qualquer.
Horário: à tarde,sol à pino,tipo umas 13:56.
Motivo:Saudades de verdade.
Obs.:Pode mandar deixar na porta,tocar a campanhia da minha casa e sair antes que eu apareça.E manda esquecer qualquer protocolo,não tenho carimbos em casa."

domingo, 17 de fevereiro de 2008

.Uma pausa para a nostalgia.


"Crescer é perder o direito às certezas,andar às cegas,lançar-se à bruma,conhecer os distúrbios dos desejos"
Começo sentindo saudades de quando eu não conseguia entender o significado desta frase aí de cima...
Saudades de quem nao está mais aqui...Do tempo que podia fazer quase tudo... Do tempo que andava de calcinha e eu só era uma menina andando de calcinha na varanda de uma casa no interior...saudades da casa do interior tb.Como eu adorava aquilo lá...o quintal era enorme,minha sede de brincar subindo e descendo naquela escada era maior ainda.Sonhava com uma piscina no fundo,mas acabava me contentando qndo às vezes aparecia uma de plástico.Os cachorros no fundo da casa para proteger-nos,mas eu pensava mesmo que eles estivessem lá pra minha diversão.Adorava qndo eles corriam atrás de mim.
E o meu quarto??Ele era lindo,todo decorado na cor rosa,tinha abajour,cortina combinando com as colchas que forravam as camas,guarda-roupas imensos com portas inalcançáveis.Tinha até um sofá que ficava no centro,dividindo a minha cama da cama da minha irmã.É,eu dividia quarto com minha irmã mais velha.Eu adorava isso também.O sofá depois de um tempo foi substituído por uma escrivania,acho que minha mãe achava que uma mesa no quarto incentivaria nós duas a estudarmos mais.O sofá incentivava a que mesmo??Ah nãooo...naquela idade sofá só servia pra sentar e assistir TV.Até hoje prefiro que continue servindo só pra isso.
Lembro com muita saudade também de um chuveiro que tinha no quintal.Nooooossa,eu adorava tomar banho ali,a água era forte e fria,apesar de nunca gostar de água fria eu me deixava empolgar pelo sol e pela alegria,a água era o de menos naqueles momentos.
Ah!A churrasqueira...que beleza de lembrança.Meu pai era o melhor e mais bonito churrasqueiro e eu não saia do pé dele pra ganhar carne bem torradinha,ele não sabia se o que estava me dando era carne ou pedaço de carvão.Sempre preferi as bem passadinhas.
A casa realmente era um espaço de festas,não tinha lugar melhor pra mim.E confesso que pra muita gente.A campanhia de lá não parava.Fim de semana era a certeza de uma casa cheia,de gente feliz,de vida despreocupada.
O quarto dos meus pais era pra mim a "suíte master",fazia festa e guerra pra dormir lá.Hoje pensando bem e olhando tudo de fora, acabo confessando que me faltaram uns bons castigos,talvez me sobraram também uns bons caprichos que faço questão de carregar até hoje.
A casa dos meus avós ficava bem na frente.Ao lado tinha o supermercado da família,em frente a este supermercado tinha a loja de confecções da minha mãe.Tudo era muito perto.O mundo parecia ser só aquilo ali,simples daquele jeito.
Acho que só rezava pra ir à escola qndo acontecia alguma coisa no fim de semana que eu queria exibir pra todo mundo.O meu sonho de quebrar um braço tem muito a ver com isso.Lavar o cabelo antes de mostrar que tinha dado escova???Jamais.Podia estar necessitando água.
Na minha imaginação de menina de 10 anos,tudo naquele lugar parecia girar em torno de mim.As pessoas pareciam só ter meu nome na boca e no pensamento.Tudo tinha que ser pra mim.Carol precisava captar a atenção onde chegasse.Mas eu era uma menina meiga,carinhosa.Tinha esse defeito da "necessidade compulsiva de aparecer",mas o encubro dizendo: "São coisas da idade".Eu tinha certeza de que era linda com tanta altura e pouca carne,minha mãe era responsável por isso.Tentei ser modelo.Hoje só tentaria isso de novo se tudo desse errado,inclusive a minha tentativa atual de recuperar 6 kgs.
Sonhava em morar em Salvador.Hoje sonho em ter uma casa de praia por lá.
A casa do interior ainda existe.Ia sempre pra lá,mas hoje vou pouco.Minha mãe já está morando aqui comigo,meu pai fica mais aqui do que lá.A casa continua com quase tudo de antes,só meu quarto que agora é bege,os cachorros que não correm mais atrás de mim querendo brincar,o chuveiro do fundo não liga mais,acho que enferrujou...a churrasqueira tem cinzas velhonas,a escada agora me causa cansaço.
A saudade me causa impotência,alegria e incoerência.
Impotência por não poder voltar e fazer tudo igual.
Alegria por poder sentir saudades de coisas únicas,vividas e sentidas por mim uma única vez...de um jeito que por mais que eu tente não conseguiria sentir outra vez com a mesma intensidade e com tanta magia ao redor.
Incoerência??...

Saudades da casa no interior...
Saudades do interior do meu interior...